domingo, 18 de dezembro de 2011

#16

   O simples fato de que para um pessimista o copo esta sempre meio vazio e para um otimista o copo esta meio cheio é a prova fundamental de que nenhum é melhor do que o outro; assim como a religião opressiva é tão errada quanto o ateísmo opressivo.
   Em seu propósito, são todos idéias que fazem parte de um consenso muito maior do que a simples discussão de um assunto e seu oposto absoluto. Nada mais servem do que para coletar dados de óticas diferentes para chegar a conclusões indiferentes de opiniões. Mas nós humanos não conseguimos ser imparciais. Há necessidade de se identificar com um ponto e defende-lo.
   O pessimista sempre vai ser pessimista, pois este olha através de olhos diferentes de um otimista, e vice versa. Provavelmente o otimista gosta de contemplar a beleza do mundo, a arte criada a partir de mentes brilhantes, obras magnificas, música, tudo o que o talento imenso do ser humano pode oferecer aos nossos afortunados sentidos, alem das belas paisagens, lugares e diversidade que esse mundo nos tem a oferecer. Já o pessimista olha para o sofrimento desnecessário, o descaso completo da mente humana para com sua própria espécie, as consequências do egoísmo desse ser que ao mesmo tempo é capaz de criar coisas tão belas. Não preciso citar o holocausto, as ditaduras e guerras financiadas, a manipulação de mercado, etc etc. O fato é que o belo é atrativo, mas não é tudo; assim como lado degenerado de tudo. Nunca haverá consenso entre duas pessoas desse tipo porque o otimista não se sente bem falando do podre, do feio, daquilo que da mal estar, e o pessimista não suporta aquele que só gosta de cheirar o perfume das rosas.
   Não sei qual seria o consenso entre essas duas partes. O mundo é um complexo brinquedo nas mãos erradas. As propagandas ensinam as mentes jovens a sempre dar preferência ao mais belo, mais atrativo, e deixar o feio de lado. A religião também se acomoda nisso. O único sofrimento lembrado pelos religiosos hoje em dia é o daquele que morreu na cruz. Orar para aqueles que estão sofrendo no mundo é uma coisa, ter o conhecimento daquilo é outra. Assistir a uma criança sendo executada, pessoas sendo torturadas, mortas, descartadas como se fossem nada, animais sendo massacrados e todo resto que a evolução nos proporcionou é muito diferente do que apenas ter a palavra "sofrimento" impressa na sua cabeça sendo interpretada por você como uma gripe ruim. A dor que esse mundo sente não é equivalente a uma gripe de fim de semana. A consciência humana foi roubada pelos tablóides. Os próprios ateus que se julgam superiores quando se comparando aos religiosos muitas vezes não tem ângulo suficiente para enxergar nada além de uma necessidade incontrolável de provar que o cristianismo é errado.
   O mundo precisa de pensadores, sejam eles cristãos, budistas, ateus ou muçulmanos. Independente de fé e crença, o mundo clama por filhos que reconheçam sua dor, sua beleza e seus problemas. A hipocrisia nem machuca ou surpreende mais. Já é esperado o pior dos grandes poderosos, afinal, eles são os grandes arquitetos dessa realidade.

#15

   O mundo é claramente separado por dualidades, pontos opostos tangenciando praticamente qualquer assunto. Bem, mal, Deus, demônio, políticos de direita, de esquerda, céu, inferno, eterna gloria, eterno sofrimento, simples, complexo. Bem, a lista é enorme. E sim, eu decidi parar no complexo. 
   Porque o homem faz questão de procurar o antagônico de tudo? 
   A psicologia diz que se crianças forem separadas de qualquer maneira distintiva, como por exemplo camisetas de cores diferentes, e forem colocadas em um lugar onde haveria convívio entre elas, as crianças se relacionariam com as outras da mesma cor de camiseta naturalmente, criando uma barreira psicológica entre os da cor diferente. E essa distinção cresceria cada vez mais.
   É da natureza do homem ser homem, como do macaco ser macaco e o rato ser rato. Marx não encontrou a origem da hostilidade humana, dessa enfermidade; apenas diagnosticou outro sintoma. E sempre vai ser assim, até que o homem não seja mais homem. Somos naturalmente destrutivos, semeadores do nosso próprio fim.  Não é atoa que livros e livros sobre táticas de marketing, de negócios, até mesmo sobre a grande arte da sedução, trate dos instintos mais básicos e primitivos do homem. Sim, aqueles instintos selvagens que um dia nos serviram como utensílio primordial para sobrevivência. No fundo, o homem não mudou, pois continua seguindo sua "lei da selva"; mas essa selva é de concreto, e o almejado é viver em cima dos outros, enterrando quantos corpos forem necessários, para ganhar o título de bem sucedido.
   O preço hoje em dia não é nem mais a alma ou a integridade da pessoa. É o preço definitivo da consciência. O mundo é bem mais selvagem hoje do que já foi em qualquer outra era desse planeta. O domínio dos inteligentes os fez esquecer de que são primatas e ainda lutam como tal.

sábado, 4 de junho de 2011

#14

Uma das, se não a principal causa da estratificação social em um estado tão grave como o atual, é não apenas o capitalismo comercial, mas toda uma ideologia imperialista capitalista que luta para manter o atual sistema (que já se mostra falho e encontra-se próximo a um gargalo perigoso). O capitalismo hoje, apesar de ser o modelo econômico mais bem sucedido, é nada mais do que uma ilusão aos olhos da sociedade. As próprias escolas são preparadas para desenvolverem trabalhadores aptos a desempenharem determinado papel na sociedade: consumir, consumir, consumir. Não se explora mais o real talento do indivíduo, e sim seu potencial como consumidor. A sociedade capitalista prepara desde o berço indivíduos não pensantes, consumidores, maquinas trabalhadoras geradoras de capital.
   Não bastando isso, atribuir a necessidade de dinheiro à vida de indivíduos agrava ainda mais a enfermidade social. Um grande exemplo é o do pedreiro. O salário de um pedreiro que trabalha em uma obra é apenas o suficiente para ele ir para casa, comer e voltar para trabalhar no próximo dia, ao contrário do lucro que ele gera para o responsável pela obra. Isso causa um ciclo vicioso, mantendo os poderosos no poder e os vassalos na base da pirâmide.
   Esses exemplos são sintomas de uma doença conhecida: uma voracidade incontrolavel por poder. O dinheiro vem sendo usado com o cunho manipulativo e até mesmo opressivo, sendo esse inesgotável. Os bancos e a reserva federal criam dinheiro gerando divida, essa que será futuramente "paga" com mais dinheiro que será criado gerando mais divida. Uma formula simples: se não tem divida, não tem dinheiro. E o pior: ao cobrar juros os bancos acabam criando dinheiro que não existia, fazendo ser automaticamente necessário a emissão de mais moedas (que serão geradas pelo preço de mais divida, como visto anteriormente) para pagar essa divida "virtual", fazendo assim que seja impossível uma quitação completa da divida. Isso gera, além de um grande acúmulo de capital na mão de poucos (bancos, governo, etc), uma prisão virtual na qual todos os indivíduos que constituem esse sistema encontram-se. E, como citado anteriormente, o sistema luta para manter sua estrutura, privando indivíduos denominados livres de acordo com a constituição de exercerem sua liberdade escrita no papel, fazendo com que esses atribuam a necessidade de pagar uma divida inexorável e interminável à sua existência.

terça-feira, 17 de maio de 2011

#13 - ...

   Hoje o dia amanheceu fúnebre, em tons de cinza e azul; como se o sol estivesse de luto, em conflito consigo mesmo, deixando um frio pálido e opaco enternecer cada sentimento remanescente da noite que se passou. O estômago, pai da aflição, revira-se entre a angústia e consome a si mesmo, degradando a desgraça que o revolve. O ar é rarefeito, mal se respira; o tempo é seco e desesperado, o coração mal bate e a mente não para de se jogar em um precipício de misantropia e niilismo.
Hoje o tempo não melhora não.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

#12 - Ahh ..!

Ahh eu quero sexo, quero perder a razão, entregar-me ao naturalismo que todo mundo tanto mascara. Quero ser o animal que sou e abandonar a camisa de força que a sociedade colocou sobre minhas ideologias. Quero amar, provar da loucura que os loucos chamam de normal, entregar meu coração a alguém que o destroçará inúmeras vezes, sofrer o desespero de não poder viver a vida, ficar desconcertado e, ao fim do dia, morrer.
   Quero sair do ventre do meu subconsciente intrépido toda manhã e adentrar-me na rotina desconfigurada que guia minha vida. Quero não apenas que nossos destinos se cruzem, mas que se juntem eternamente até quando possível. Quero teus dedos entrelaçados entre os meus quando estivermos juntos, teus braços e pernas para abraçar quando estiver frio, tua boca, seus olhos, seu suor, seu calor. Quero decorar tua geografia, consumir o fogo que consome minha sanidade. No fim da noite, porém, preciso do seu coração. Sem ele eu não nasceria novamente quando a claridade batesse sobre nossas pesadas pálpebras. Sem ele todo o resto não serviria à propósito nenhum. Seu coração mantém os batimentos do meu; e o seu amor os colocam na mesma freqüência. Preciso de ti, minha musa.

sábado, 14 de maio de 2011

#11 - Confessions

   Eu sinto você como se estivesse debaixo da minha pele, entre as minhas vísceras, queimando. És minha musa, meu amor; minha música, minha poesia, tudo o que vejo, ouço e crio. É você, amor. Mas eu não a amo, e não quero te amar. Teu amor representa vulnerabilidade, mortalidade. Te amar significa a morte de tudo o que me fortaleceu até hoje; significa ter a possibilidade de te perder, de sofrer como nunca sofri, novamente; e eu não quero isso. Enquanto a paixão mantém minha embriaguez com a noção de que tudo é eterno e que problemas não existirão, o teu amor representa sobriedade. Eu não quero isso. Na verdade, amor, eu não posso mentir; o que eu quero é liberdade, não correntes. 
   Sinto dizer, amor, que não suporto mais isso. Sinto dizer que, infelizmente, eu cansei. Tenho medo de você, do que você representa, pois já não consigo não pensar em ti; não consigo ser eu mesmo sem você ao lado. Sem a tua presença eu perco o paladar, perco o tato; a vida perde o gosto. Temo porque quero a liberdade de demonstrar esse afeto explicitamente, todo tempo, intrinsecamente. Temo porque até mesmo nossa paixão foi sóbria, com alguns poucos momentos de ressaca. É um jogo de roleta russa particular, com altos e baixos, onde você é o gatilho e a pólvora, e eu, a munição. Eu já jogo teu jogo, já visto a sua bandeira. Você é meu rumo, meu sentido, minha alegria!
   ...A verdade, amor, é que eu temo porque te amo e amo te amar.

terça-feira, 10 de maio de 2011

:F

Engraçado como as coisas são.. A reciprocidade é tão real quanto o afeto, e a realidade é encarada e interpretada de maneira suspeita e duvidosa, sempre com um pé atras. O que interessa, porém, para uns, é nada disso; é simplesmente o afeto e a vontade de viver aquele plural, enquanto para outros, mais vividos e incrédulos, a necessidade de conhecer cada centímetro do terreno antes de o percorrer fala mais alto. O resultado decorrente de tudo isso dependerá de duas coisas: intensidade e vontade. O sentimento sempre fala mais alto, e as interpretações são importantes por ora, mas o tempo fará desvanecer qualquer incongruência com a verdade. Enquanto isso, bora viver a vida, e o tempo toma conta do resto!
Adoro-te.
<3

quarta-feira, 27 de abril de 2011

#10 (Rascunho/Interminado)

    Até aonde a epistemologia se comporta de maneira válida? Até que ponto o conhecimento tem valor?
    Um dos fatores contribuintes para o atual quadro social, completamente enfermo, é, sem dúvida, o ópio do povo. São os haríolos; abutres decrépitos, ímprobos e ineptos que proferem com veemência, regurgitando toda uma promessa de salvação e ideologia opaca inelutável para quem se encontra despreparado e incapaz de criticar ou questionar. Consideram-se sagrados e falam em nome de um ser onisciente, onipresente e onipotente; de forma impetuosa e maliciosa, fazendo desvanecer qualquer vontade de protesto por parte do indivíduo. Extraem de maneira deplorável a significância que ele atribui à própria existência, forçando-o a aceitar uma entidade divina, perfeita e inalcançável; marcando de forma explícita a desigualdade inexorável entre as castas.

#9

    O que faz um homem entrar em conflito consigo mesmo, com sua moralidade, sua lógica, se não o amor? A paixão é visceral, lacera a sanidade da pessoa. Não se dorme sem pensar nem acorda sem se lembrar do outro alguém. Aquela angústia de existir no singular e não ser o plural de outra existência machuca, e as vicissitudes da vida recordam de maneira crua, fria e seca os detalhes de uma pessoa que não se importa em importar tanto para você. É, é o "amor". Esse que o reprime e condena por não ser outro; que pega seus objetivos e prioridades à força e os coloca de lado, para que haja espaço. Ele te mata, transforma em outra pessoa, mantém apenas a tua essência e libera o seu orgulho e as tuas loucuras para que o sinta dentro de cada veia, cada fibra do seu corpo. É sempre o mesmo, sempre. Indefensável e imprevisível. Agora, a paixão, queima de maneira desesperadora, mantendo a loucura à flor da pele, num gargalo perigoso, no ápice entre o doce e o amargo. A busca, a conquista, se desenrolam em passos desconhecidos, aflitamente ensaiados. A paixão é o prelúdio, turbulento e agitado, desordenado, do amor. Ah, o amor.. Como é bom amar! O amor é um monólogo a dois, a abstração de um turbilhão de emoções, agora, concretas. Não se aprende a amar, se sente. Não há um porque, simplesmente porque não é necessário. Se ama por ódio e prazer do mesmo jeito que se chora por alegria e tristeza. O amor é lindo, perigoso, desconhecido, traiçoeiro. Mas apesar de todas as contradições e misticismo, o amor é amado por todos que um dia amaram e foram amados. O amor é tudo. É querer não apenas viver, como morrer por alguém. É devotar sua vitalidade à outra pessoa. Amar significa esperar uma vida inteira. Amar não significa querer dar o mundo, a lua e todo o universo para alguém; mas o seu mundo, o seu coração, teu sangue.
Amar é ser amado, é a justificativa de toda ansiedade, angustia, tudo sofrido até então.

Cara, o que é o amor?

domingo, 3 de abril de 2011

#8

    Humanidade, palavra que por definição envolve bondade, benevolência. O que resta ainda de humano no homem moderno, esse que ama, promove e protege um sistema que escraviza a si mesmo? Uma equação simples para um sistema complexo; enquanto os democratas continuarem financiando os ditadores e o povo que sustenta essa estrutura corrupta continuar preocupado em beber, ver o jogo no fim de semana e meter, o quadro não vai mudar. O povo quer isso, o povo quer farra. E aí aparece um senhor, de origem humilde, sorriso simpático, histórico batalhador e sofrido; e o povo, aquele mesmo citado anteriormente, se identifica. É lindo. E votam no molusco, entregando a ele o maior brinquedo possível, o Brasil. Helicóptero, avião, filho milionário, etc. Será que o molusco vai se acostumar a viver sem o brinquedo? Bom, mas ele ajudou muito. Copiou o bolsa família, criou mais currais eleitorais e fez seu nome de maneira honrosa.
    E o povo, ganhou o que ao entregar o brinquedo na mão do demagogo? O cidadão ganhou a TV nova que colocou na sala, financiada em 100x e o bolsa família, bolsa bacon, bolsa escola, bolsa faculdade, bolsa taxi, bolsa onibus. Pronto. É o casal perfeito; um péssimo sistema educativo de mãos dadas com as grandes armas de manipulação em massa, isso sem contar com a vontade do próprio indivíduo de ler, buscar conhecimento, instrução. São grandes aliados: A inépcia, dominante entre os menos privilegiados; e os líderes do rebanho, operando com aquele jeitinho brasileiro, sempre conveniente, adquiridos de maneira empírica; resultando, é claro, no grande despautério descarado que conhecemos como política. São os grandes pilares de uma sociedade lacerada; sem virtudes, sem caráter.
    O grande problema é que o cidadão vive em uma sociedade onde tudo é comercializado. Do corpo perfeito e inatingível das panicats à que música que ele escuta, tudo ja é pré selecionado. Os valores de hoje são ditados, em alto e bom tom, de maneira silenciosa, em cada outdoor, cada canal de televisão. É claro que o cidadão não é culpado disso. Ele ja nasceu nessa merda, desse jeito. O que ele tem na cabeça é justamente o que é pra ele ter na cabeça. Ele tem que trabalhar, pagar imposto, ir pra igreja, assistir BBB, comprar aquele celular novo, aquela roupa. O capitalismo é assim. O fulano nasce para ser alguém, e esse alguém depende de quanto você tem. Nos tempos hodiernos, o importante é sobreviver, não ser engolido pelo sistema. A sociedade é composta de homens vivendo da única maneira que sabem. Não se explora o talento, a arte; isso não paga a conta de ninguém. A situação ja beira um precipício letal. O ser humano já não tem a liberdade de desenvolver seu real talento, de explorar seu potêncial. Ele já é escravo de um sistema monetário perverso. Porém, esse quadro pode mudar. É necessário consciência social, política, interesse do próprio cidadão em questionar os porquês. É preciso ter fome de conhecimento, vontade de atribuir um significado e valor à própria vida que não são vendidos comercialmente. Não é tão difícil quebrar um paradigma. Difícil é fazer o que todos nós já fazemos, trabalhar igual animais, muitas vezes nos privando de exercer determinadas atividades que amamos, para sustentar um sistema monetário sujo que beneficia a grande elite. Difícil é dar o sangue para pagar o maior imposto do mundo e ver nossos representantes cuspirem na cara dos eleitores, esses que, como bom gado, ficam sem palavra ou ação por falta de instrução e excesso de manipulação da mídia. Difícil é ser escravo de uma liberdade capitalista ilusória.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

#7 (Rascunho, preguiça de rever tudo :F)

Olá, prazer.
    Em detrimento de uma voracidade intelectual que me consome a alma, meu paladar, olfato e até mesmo o tato; além de vendar-me os olhos e cada vez mais diminuir meu ângulo de visão; tornando, a cada segundo que passa, difícil sentir os prazeres tão finitos oferecidos pela vida; continuo minha busca pelo vazio. Isso. Vazio. No começo é um, depois dois, três cigarros ao dia; até que chegue no primeiro maço diário. O mesmo ocorre com o vazio; sempre cresce, nunca é retrógrado.
    O vazio não é nada mais do que uma constatação. Algo que por simples definição nos deixa inconformados, apesar de desconfortavelmente conformados. Não trata-se apenas do cerne, do âmago do assunto; não é sobre ser conivente com a ausência e até mesmo incentivo da falta de probidade na sociedade por parte dos que guiam o rumo do gado. Somos julgados com austeridade, porém não julgamos com tal severidade.
    Esse vazio, melancólico e desastroso vazio, é resultado disso. Impotência diante de potencial. Feliz é aquele que não anseia por mais, não busca respostas para os porquês da vida. Os que mantém a cabeça baixa até o dia do abate.
    Assim como uma fila de inúmeros judeus perante o poderio alemão em um campo de concentração, o gado mantém a postura de gado, com a exceção de uns poucos que levantam as pesadas cabeças e orelhas, e logo sentem no estômago, o pai da aflição, o enjôo e a ânsia que acompanham o estado de percepção. Esses são os que carregam em sua consciência o peso da ignorância, essa que, para os de cabeça baixa, não pesa mais do que as grandes orelhas e chifres. Sendo assim, esses poucos, as exceções, tornam-se enfermos e rapidamente provam do que chamam de loucura. Hereges, loucos, monstros. Já tiveram muitos nomes esses que foram exceções. E, novamente, tudo isso em nome de uma causa. O vazio. Esse que tanto falo torna-se uma causa pelo simples fato de ser natural. Aqueles que, por um simples levantar de orelhas tornaram-se exceções, buscaram um motivo, um propósito. Os hereges, monstros e loucos buscavam a resposta absoluta, o grande porque. E por mais contraditório que seja, por maior que fosse o intelecto, por maior que fosse a quantidade de livros, idéias, filosofias e conceitos que esses fulanos tomassem conhecimento, mais complicada a pergunta se tornaria, mais distante estariam da resposta. Esse é o vazio.