Um velho homem,
Em velhos trajes,
Sobre o duro asfalto
Da velha cidade,
Anda solene em passos
Marcados.
Compasso.
Bate o ponteiro intimorato,
O relógio canta
Desbravando tempo novo,
Futuro passado.
O velho sorri
Ao ver o jovem chorar.
Bate o ponteiro, faz o mundo girar.
Mal sabe o jovem
Que o que faz o tempo passar
É o lembrar.
O velho acende o cigarro
Sem saber do último trago
E contempla a bela,
Velha cidade,
Os belos e velhos sapatos,
Os braços cansados
E o calor do amanhecer,
Que tantas vezes testemunhou,
Antes do labor e do andar,
Do construir e conhecer
Cada curva do existir,
De amar sem se arrepender.
O cigarro chega ao fim,
O sol sai do ventre do inconsciente
Por entre prédios imponentes.
Perde-se o chão,
O mundo gira em lentidão.
Os tons de cinza desvanecem
Em desconexa harmonia.
Enquanto chorava o jovem,
O velho ria.
Felipe Peloggia