Eu acho que é isso mesmo. Nós apenas imaginamos entender realmente como a vida - esse mecanismo de constante movimento e complexo calejamento - funciona quando já passamos pela oportunidade de sentir o sabor da primeira experiência. Já imaginou se a melhor transa da sua vida fosse a primeira? Porra, bixo.. Difícil, não?
Acredito que seja assim. É necessário um diagnostico terminal - ou potencialmente, de maneira que o súbito frio na boca do estômago penetre os portões de ouro da sua consciência e ponha a sua atual realidade em risco absoluto - para que as fronteiras da percepção se deparem com a importância de ver, ouvir, sentir, respirar, falar... Coisa tão banal que qualquer projeto de ser humano faz, não? Que tal depois de uma sessão de quimioterapia? Será que até mesmo engolir a tua própria saliva não teria um significado diferente? Sim. Sim mas não. Ironicamente é depois do sentimento de cláusura, de estar encarcerado no próprio corpo sem a liberdade que sempre foi inerente à tua existência, que a percepção dos nossos cérebros de lagarto encontra valor na mesma. Em um único e infausto momento, quase num movimento comedido e ensaiado em síncrono com o passo rapido em que os ponteiros do relógio avançam, teu coração sente o pesar de que a festa vai continuar, com ou sem você. É aquela tal de experiência serôdia. De repente o café horrível que a sua avó fazia e o obrigava a tomar depois de uma noite desregrada e bohemia num balcão de bar qualquer torna-se uma lembrança digna de saudade. Ou aquele relacionamento que mais trouxe dor e animosidade pode vir a ter um significado muito mais puro e insólito do que aqueles que fluíram "bem". Em uma injeção de realidade o seu paladar pode mudar tanto em relação aos sabores da vida... Tudo isso percebido devido à simples constatação do que não é segredo para ninguem: o nosso tempo está se esgotando e a nossa existência ameaçada com o vagaroso, porém rápido passo em que os anos se montam na bagagem da vida. Em estado terminal, na verdade, estamos todos.
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