quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Ebrius Nihil
Teus sentidos, malditos sentidos, percebem coisas que não fazem parte da tua realidade, jovem gafanhoto. Então beba a tua cerveja, fume o teu cigarro... A estrada é longa e tortuosa, assim como a sobriedade, então respire um pouco desse ar nefasto e embriagado da tua realidade e marche virtuosamente em direção às terras alheias, aquelas que não lhe pertencem, de que teus sentidos, malditos sentidos, roubam um pouco da beleza, do gozo, da estética aprazível... Não sinta-se desgraçado por poder sentir o cheiro mas não poder tocar nos talheres, ainda não. Dê tempo ao tempo, jovem gafanhoto. Pague o preço da consciência absoluta e caminhe, apenas caminhe. Malditos sentidos.
Terminal.
Eu acho que é isso mesmo. Nós apenas imaginamos entender realmente como a vida - esse mecanismo de constante movimento e complexo calejamento - funciona quando já passamos pela oportunidade de sentir o sabor da primeira experiência. Já imaginou se a melhor transa da sua vida fosse a primeira? Porra, bixo.. Difícil, não?
Acredito que seja assim. É necessário um diagnostico terminal - ou potencialmente, de maneira que o súbito frio na boca do estômago penetre os portões de ouro da sua consciência e ponha a sua atual realidade em risco absoluto - para que as fronteiras da percepção se deparem com a importância de ver, ouvir, sentir, respirar, falar... Coisa tão banal que qualquer projeto de ser humano faz, não? Que tal depois de uma sessão de quimioterapia? Será que até mesmo engolir a tua própria saliva não teria um significado diferente? Sim. Sim mas não. Ironicamente é depois do sentimento de cláusura, de estar encarcerado no próprio corpo sem a liberdade que sempre foi inerente à tua existência, que a percepção dos nossos cérebros de lagarto encontra valor na mesma. Em um único e infausto momento, quase num movimento comedido e ensaiado em síncrono com o passo rapido em que os ponteiros do relógio avançam, teu coração sente o pesar de que a festa vai continuar, com ou sem você. É aquela tal de experiência serôdia. De repente o café horrível que a sua avó fazia e o obrigava a tomar depois de uma noite desregrada e bohemia num balcão de bar qualquer torna-se uma lembrança digna de saudade. Ou aquele relacionamento que mais trouxe dor e animosidade pode vir a ter um significado muito mais puro e insólito do que aqueles que fluíram "bem". Em uma injeção de realidade o seu paladar pode mudar tanto em relação aos sabores da vida... Tudo isso percebido devido à simples constatação do que não é segredo para ninguem: o nosso tempo está se esgotando e a nossa existência ameaçada com o vagaroso, porém rápido passo em que os anos se montam na bagagem da vida. Em estado terminal, na verdade, estamos todos.
Acredito que seja assim. É necessário um diagnostico terminal - ou potencialmente, de maneira que o súbito frio na boca do estômago penetre os portões de ouro da sua consciência e ponha a sua atual realidade em risco absoluto - para que as fronteiras da percepção se deparem com a importância de ver, ouvir, sentir, respirar, falar... Coisa tão banal que qualquer projeto de ser humano faz, não? Que tal depois de uma sessão de quimioterapia? Será que até mesmo engolir a tua própria saliva não teria um significado diferente? Sim. Sim mas não. Ironicamente é depois do sentimento de cláusura, de estar encarcerado no próprio corpo sem a liberdade que sempre foi inerente à tua existência, que a percepção dos nossos cérebros de lagarto encontra valor na mesma. Em um único e infausto momento, quase num movimento comedido e ensaiado em síncrono com o passo rapido em que os ponteiros do relógio avançam, teu coração sente o pesar de que a festa vai continuar, com ou sem você. É aquela tal de experiência serôdia. De repente o café horrível que a sua avó fazia e o obrigava a tomar depois de uma noite desregrada e bohemia num balcão de bar qualquer torna-se uma lembrança digna de saudade. Ou aquele relacionamento que mais trouxe dor e animosidade pode vir a ter um significado muito mais puro e insólito do que aqueles que fluíram "bem". Em uma injeção de realidade o seu paladar pode mudar tanto em relação aos sabores da vida... Tudo isso percebido devido à simples constatação do que não é segredo para ninguem: o nosso tempo está se esgotando e a nossa existência ameaçada com o vagaroso, porém rápido passo em que os anos se montam na bagagem da vida. Em estado terminal, na verdade, estamos todos.
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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
E agora?
É, faz tempo. Faz tempo que não escrevo,
que não me entrego, digamos assim, à escrita. My Dark Passanger, diria Dexter Morgan. Escrever não é uma coisa
fácil, muitas vezes nem prazeroso. É demasiado trabalho, principalmente para
nós, pobres mortais, que vivemos à sombra da grande montanha de escritos
elaborados pelos grandes. O que seria um dia na mante do polêmico e genioso
(além de genial) Christopher Hitchens? Difícil, muito difícil imaginar. Se você pode falar, você pode escrever,
dizia. Mas quantos de vocês gostam de
ouvir o que os outros falam? – Muito bem colocado, Hitch. É, é foda. Nem
com meu colírio alucinógeno, como diria o Simão da Folha! E que tal o querido
Edgar Allan Poe, o Corvo? Aí complicou mais ainda! Tá louco! Se a bebida,
dependendo do caso, mais atrapalha do que ajuda, imagina aos tons revoltos e “resolutos”
do Ópio? Ô bicho inteligente esse corvo!
E aí o jovem escritor, aquele coitado,
revoltado, provavelmente maluco, ser expressivo e ainda esperançoso, se pergunta:
E agora? ... É, meu amigo, e agora é que fodeu! A escrita vai muito além do “e
agora?”, porém garanto, pela pouquíssima experiência que tenho no assunto, que
jamais se livra dele! Essa questão é inerente ao ato, à necessidade da escrita.
Sim, necessidade. Acredito que escrever vai muito além do gozo, do simples
prazer, da simples troca entre labor-recompensa. É uma necessidade
inexplicável, imutável, de expressão, de comunicação, seja consigo mesmo ou com
algum outro ser pensante. É complicado, bem complicado! Como em tudo, há uma insofismável
seleção natural tangenciando a folha em branco, o conhaque (ou Scotch, o que
preferir) e a velha Olivette em cima da mesa. Há quem considere indispensável o
cigarro e o café nessa equação. Sinceramente? Não importa. Essas são variáveis,
o que importa é a constante. O quão primordial é a escrita na sua vida?
Indispensável? Vital? É, pequeno gafanhoto... E agora?
Fico por aqui. Minha dose de veneno está
acabando, pobre eu! Fica aqui também minha singela homenagem aos que se se
devotam à tão árdua tarefa de tecer palavras! Um dia eu chego lá! Vocês são
fodas.
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