“... Não há
resposta para a sua pergunta.”
“Mas tem de haver um porquê, um motivo, algo”, exclamava com interrogações expressas em seus grandes olhos. Ela tem os olhos da mãe, grandes e expressivos; o cabelo ondulado, revoltoso; a expressão intimorata, a personalidade implacável, a mesma altura, mesmo corpo, a mesma venustidade irrepreensível e incontestável... É como se fossem a mesma pessoa.
“Precisamente. Amor.”
“Você mal a conhecia”, respondeu a menina, desconfiada.
“E?”
“Como pôde simplesmente clamar por amá-la sem ao menos conhecê-la? Não faz sentido.”
“E eu não estava certo?”
“Ela pode ser agora, mas...”
“Escuta”, respondeu, lentamente pegando um cigarro do bolso esquerdo interno do blazer e acendendo-o em duas tragadas. Sem pressa, posicionou o cigarro sob o cinzeiro à sua frente. O copo de scotch, que a própria Elizabeth havia servido, intocado até então, foi finalmente instrumentado. O girou em cima da mesa, jeitosamente, e deu-lhe um hausto. O líquido deambulou pela parte posterior da sua boca, de maneira que todos os sinuosos acentos deram vida ao seu paladar, até que engoliu. Elizabeth à sua frente, respeitosamente esperando, com olhos vidrados e imóveis. “Eu poderia estar errado e ter feito tudo por nada, ela poderia ter facilmente lacerado o meu coração com as mesmas interrogações com que você me apresenta hoje, afinal de contas”, disse entre um trago no cigarro, “era loucura, certo?”, e não esperou por resposta. “Acontece que no momento era a única coisa que fazia sentido para mim. Eu não sabia se aquilo era amor, tudo o que eu sabia é que eu a queria por perto, não importa como.”
“E você simplesmente se jogou? Tão fácil assim?”
Dessa vez ele abriu um sorriso. Mais um trago no cigarro e um hausto no scotch. “Foi simples, isso eu garanto. Mas foi a coisa mais difícil que eu fiz na vida. Eu tinha certeza de que os nossos destinos se separariam ali.”
“Mas tem de haver um porquê, um motivo, algo”, exclamava com interrogações expressas em seus grandes olhos. Ela tem os olhos da mãe, grandes e expressivos; o cabelo ondulado, revoltoso; a expressão intimorata, a personalidade implacável, a mesma altura, mesmo corpo, a mesma venustidade irrepreensível e incontestável... É como se fossem a mesma pessoa.
“Precisamente. Amor.”
“Você mal a conhecia”, respondeu a menina, desconfiada.
“E?”
“Como pôde simplesmente clamar por amá-la sem ao menos conhecê-la? Não faz sentido.”
“E eu não estava certo?”
“Ela pode ser agora, mas...”
“Escuta”, respondeu, lentamente pegando um cigarro do bolso esquerdo interno do blazer e acendendo-o em duas tragadas. Sem pressa, posicionou o cigarro sob o cinzeiro à sua frente. O copo de scotch, que a própria Elizabeth havia servido, intocado até então, foi finalmente instrumentado. O girou em cima da mesa, jeitosamente, e deu-lhe um hausto. O líquido deambulou pela parte posterior da sua boca, de maneira que todos os sinuosos acentos deram vida ao seu paladar, até que engoliu. Elizabeth à sua frente, respeitosamente esperando, com olhos vidrados e imóveis. “Eu poderia estar errado e ter feito tudo por nada, ela poderia ter facilmente lacerado o meu coração com as mesmas interrogações com que você me apresenta hoje, afinal de contas”, disse entre um trago no cigarro, “era loucura, certo?”, e não esperou por resposta. “Acontece que no momento era a única coisa que fazia sentido para mim. Eu não sabia se aquilo era amor, tudo o que eu sabia é que eu a queria por perto, não importa como.”
“E você simplesmente se jogou? Tão fácil assim?”
Dessa vez ele abriu um sorriso. Mais um trago no cigarro e um hausto no scotch. “Foi simples, isso eu garanto. Mas foi a coisa mais difícil que eu fiz na vida. Eu tinha certeza de que os nossos destinos se separariam ali.”
“E o que aconteceu?”, perguntou Elizabeth,
sorrindo.
“O que aconteceu foi que sua mãe me surpreendeu.
Ela segurou a minha mão quando achei que a largaria.”
“E se não tivesse acontecido isso?”
“Então nós não estaríamos aqui agora. Eu provavelmente estaria contando uma história diferente à outra pessoa, não você, Liza. É essa a grande mágica da vida, do amor, da escolha... De maneira alguma minha vida estaria acabada se não desse certo”, mais um longo trago e um gole no whisky. “Eu me reergueria, recomeçaria, e a vida teria seguido outro rumo, com outras preocupações, outros algores, conquistas e pilares.” – Ele notou certo descontento na face da menina. “Mas é claro que esse homem não seria eu. Felizmente, sua mãe foi louca o suficiente para me aguentar.”
“E se não tivesse acontecido isso?”
“Então nós não estaríamos aqui agora. Eu provavelmente estaria contando uma história diferente à outra pessoa, não você, Liza. É essa a grande mágica da vida, do amor, da escolha... De maneira alguma minha vida estaria acabada se não desse certo”, mais um longo trago e um gole no whisky. “Eu me reergueria, recomeçaria, e a vida teria seguido outro rumo, com outras preocupações, outros algores, conquistas e pilares.” – Ele notou certo descontento na face da menina. “Mas é claro que esse homem não seria eu. Felizmente, sua mãe foi louca o suficiente para me aguentar.”
“Você escrevia muito sobre ela?”
“Tudo o que eu escrevia – e escrevo, é
sobre ela, Liza. Você sabe disso.”
“Eu queria que você não tivesse sido
covarde”, disse a menina, com voz de mulher, em tom austero. O cômodo da sala
tornou-se negro, as paredes perderam-se entre o opaco e, por alguns segundos,
tudo se tornara indistinguível. Apenas a máquina de escrever na grande mesa
mantinha-se íntegra, ao lado do copo e do cigarro queimando. O macabro subitamente
preencheu o espaço. Elizabeth não estava lá. Na antiga máquina de escrever, havia uma
folha branca manchada de um vermelho tinto em contraste com a tinta preta das palavras ali contidas.