Se não tiver coragem de assinar o próprio texto, não escreva. O anonimato não serve aos fortes, e desvia o descalabro dos fracos. É uma covardia lançar ao mundo expressões desamparadas, órfãs. A humanidade é assim. Ganhamos com isso dezenas de Providências em perfeita harmonia com as falhas de seus criadores, regendo um totalitarismo cego sobre mentes carentes de um grande norte. “Pois então, aqui está seu norte!” certamente disse o primeiro que enxergou, no reflexo de si, Deus. Religião faz mal a você. Esconda-se da sua sombra. Esconda-se sob o papel e tinta e vinho. Escreva seus delírios, e assine. Assuma a autoria do mais vergonhoso, inaceitável e imperscrutável pensar. Transforme-o em arte. Tire das entranhas o que ocupa o pensamento da mais bela, fina e bucólica das damas, e estremece suas coxas quando nem Deus está olhando. Não tenha medo de ser humano, afinal de contas, você é. E acredite, ninguém está olhando. Beba o que estiver na sua frente, ou não beba, mas alimente o desgraçado que grita dentro do seu peito clamando por atenção. Ouça bem o que ele diz, e tente manter o passo. Escreva o mais rápido que puder, não fique para trás. Esqueça do mundo ao seu redor e das ofensas dos que não aceitam sua própria insignificância, visto que o mundo não está nem aí para você. Ouça música, os grandes o esperam. Ludwig Van, Schubert, Sebastian, todos os verdadeiros escultores de massas de ar. Você tem muito a aprender com o que eles têm a dizer. Não pense no que está a fazer, não se pode ser racional ao criar arte. Ela tem que vir do âmago, com vida própria. O seu trabalho é só registrar enquanto o breve e súbito estro absoluto e despótico mantém viva a inspiração, e se odiar quando não conseguir preencher uma linha sem ela. Alimente seu ódio por todas as belas coisas, e faça um contrato com o diabo, depois renegue-o, afaste-o de si, e abrace a vida, a água e o ar que lhe permite respirar por algumas décadas sob a luz do sol. Escreva sobre o tempo que um dia há de roubar-lhe o ultimo suspiro e agradeça a ele a oportunidade de ter vivido. Estude as finas artes, e os botecos e bordéis também. Enxergue a prostituta e o papa como mamíferos, e escreva depois um romance sobre os dois. Não deixe que te enganem com a ilusão de grandeza. Ninguém é grande entre os primatas. Isso não existe. Tente compreender que sua única oportunidade de viver eternamente é por meio das suas palavras. E ninguém vai te julgar por isso. Viva, e assuma autoria pela vida.
Felipe Peloggia