sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

#6

     Para viver de maneira decente precisamos de entendimento, certo? Digo, tudo é incerto, não há verdade absoluta. A única coisa que o ser humano pode fazer é escolher um lado, observar suas premissas e ter fé naquilo que opta por crer em relação a qualquer coisa. Para isso é necessário introspecção profunda e crítica racional em relação a todo o universo que temos como real para tentar alcançar um nível de discernimento suficientemente "acreditável" para nós mesmos. Sendo assim, então um ateu precisa ter fé em tudo o que diz respeito a sua crença no ateísmo (todas as provas e fatos que o levaram a crer que Deus não existe), do mesmo jeito que um cristão tem fé em todas as provas e fatos que o levaram a crer em Deus. Como não há verdade absoluta, então qualquer interpretação sobre qualquer coisa requer fé, e até mesmo uma vontade do indivíduo de crer naquilo que optou por crer. Sendo isso verdade, então muitas de nossas crenças e até mesmo valores e o que tomamos como virtudes estão diretamente relacionadas com a nossa disposição em acata-las e aceita-las.
     Porém, e o agnóstico? Tendo premissas de ambas as partes em relação a existência ou não existência de Deus, aquele que não tem uma opinião formada em relação à questão seria então por definição uma mente vazia, certo? Bom, eu não sei, acredito que não. Novamente, não há verdade absoluta. Não há como afirmar com absoluta certeza que Ele existe ou não. Então alguém que não concretiza uma opinião simplesmente está sendo, na pior das hipóteses, "políticamente correto". Acredito que esses sejam talvez os mais próximos de alguma verdade significativa. São os que, apesar de olharem para premissas de ambas as partes, ainda questionam Deus (se no fundo acreditam que ele exista, então é uma demonstração de instatisfação com a atual situação em detrimento de uma gama enorme de motivos e fatores) e busca uma verdade.

     E o sentido da vida é.... ?
Bom, acho que serei a última pessoa do mundo a descobri-lo! Tão cobiçado, tão cautelosamente analisado, porém nunca decifrado. Quanto mais penso mais chego a conclusão de que inevitavelmente o único aspecto de nossas vidas a ser decididamente controlado por nós mesmos é a perspectiva (sempre em mutação) que temos de nós mesmos. Penso, tento expor meu racional, porém o amor me vem à cabeça. O ininteligível sobrepôs-se ao inteligível, sobre o racional. Não sei porque, mas amo música, amo filosofia, amo arte. Amo tanto, sem uma explicação estritamente racional que me conforte. Simplesmente amo. Talvez seja esse o sentido da vida. Em um mundo onde os que intitulam-se defensores da moral, da liberdade, inimigos da censura, são justamente os que pisam em cima de suas causas, é preciso viver o mais excluso desse quadro o possível. Então que seja, o amor.
     Essa visão que o capitalismo nos passa, de que podemos ser e somos importantes, deve ser banida. Deturpa completamente o sentido de importância, e isso tudo acaba num turbilhão de conflitos morais, éticos, religiosos e sociais; pois em cada um dos itens citados, o importante tem sentido diferente.

#5

Maturidade, o que é? O que significa? Ser maduro é nada mais do que ter aqueles conceitos, virtudes e valores que tanto valorizávamos quando éramos inocentes, quando carregávamos aquele doce olhar de uma criança; destroçados. É uma injeção de realidade aplicada aos poucos, que gradativamente nos torna amargos e frios, adultos. Uma mutação incessante de conceitos inatos. Tornar-se maduro é nada mais do que o produto de uma troca de socos entre um indivíduo com suas mãos nuas e a própria vida, essa que por sua vez covardemente empunha um soco inglês e inescrupulosamente nocauteia a cada dia nossa inocência, deixando cicatrizes e hematomas para o próximo dia, e o próximo, até que se dê então o ultimo suspiro.
    Crescemos com a idéia de vencer, ser astros do rock e atores famosos de Hollywood. Então começa o desgaste físico e emocional, da-se início a um compreendimento real do que significa você ser você. É o jeito da vida esculpir nossas personalidades, toda nossa perspectiva de vida. Com o tempo, aos poucos percebemos a nossa própria insignificância. O passado da humanidade é tão sujo quanto o presente. Logo entendemos que somos apenas os que seguram a base de todo um sistema que alimenta a ganância e o ego dos poderosos. Seja política, religião, o que for, tudo gira em torno do poder. E esses poderosos, lá no topo da pirâmide, aqueles que mal podemos enxergar devido a distancia tão grande entre os extremos; não hesitariam, como nunca hesitaram, em sacrificar aqueles que sustentam todo o peso do luxo que eles vivem; simplesmente porque há muitos de nós. Sempre haverá a "escória" para manter as coisas como são. Guerras lucrativas, cura para doenças que são simplesmente inconvenientes demais o bolso de grandes empresas farmacêuticas, mortes por falta de policiamento/corrupção, censura à verdadeira liberdade de expressão (por meios não muito ortodoxos, é claro) e muitos outros motivos como esses citados podem caracterizar de maneira simples o sistema de corrupção que inevitavelmente mantemos vivo. Esses somos nós, pessoas que um dia acreditaram que seriam astros do rock ou atores da Globo. Essa é a magnitude da nossa significância.
    Enquanto achamos que com o tempo aprendemos a viver, bom, na minha humilde opinião, na verdade aprendemos a morrer. Vivemos o tolerável, todos vivemos, não é preciso aprender a viver. Essa jornada cheia de "sacrifícios" e dificuldades nada mais é do que uma preparação para algo abstrato como a morte. Todos queremos que nossas escolhas e atos ecoem pela eternidade, queremos a gloria de ter sido algo a mais. Porém não. Nada é eterno, ainda mais o ser humano (criatura tão efemera). O que podes fazer é morrer com dignidade, não tentar evitar a morte com atos prepotentes.